Seguir a Cristo no dia-a-dia: para que todos tenham vida plenamente
Por Andressa Pellanda
Neste primeiro texto sobre Fé & Vida, em um momento ápice da fé cristã em que nos colocamos em meditação das mensagens de Cristo para nossas vidas, que é a Semana Santa, convidamos à reflexão sobre o que é ser cristão hoje, inseridos em nossa sociedade.
A simbologia maior que vivemos na celebração pascal é a da vida que vence a morte, de um Deus que se faz homem, para livrar-nos do pecado. Paremos e olhemos a nossa volta: onde está a morte? Onde falta a vida, aquela para qual Jesus nos veio, a vida em abundância? A resposta para esse questionamento é muito antiga e já habitava o Livro do Êxodo, uma das bases da fé judaico-cristã, nos Dez Mandamentos entregues a Moisés que foi, depois, tão sabiamente revisitada e resumida pelo próprio Jesus Cristo, às vésperas de sua morte em cruz: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis”. (João 13:34)
Jesus nos mostra que a morte está onde não há compaixão, onde o egoísmo impera, e onde não reina o amor aos irmãos. Ele nos chama a sermos também atores desse Amor. E onde, em nossa comunidade, em nossa sociedade, falta-nos amor, falta-nos compaixão, mas sobra-nos a morte? “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação! Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca'” (Mc, 14:38). São muitas as mazelas sociais, que nos saltam aos olhos e, imersos em nosso mundo egoísta, não as vemos ou, pior, vemos e não fazemos nada. E assim deixamos de exercer o Amor ao próximo. Quantos indigentes pelas ruas, quantas mortes pelas favelas, quanta fome e sede de alimento, de esperança e de vida no olhar de nossos irmãos!
E eis que o Cristo nos clama para sermos atuantes diante do sofrimento e verdadeiramente conscientes de que ele atinge nossos irmãos. “Então Jesus lhes disse: ‘Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai'” (Mc 14:34). São muitas as situações diárias em que deixamos de vigiar e agimos pela morte. No mundo da internet, são corriqueiros os discursos rudes e que disseminam o ódio nas redes sociais: nos dirigimos assim ao irmão que se expressa com opiniões a que somos a priori contrários, sendo que, às vezes, ainda nem pensamos profundamente à respeito, não é mesmo?!
Na vida real, a morte também acontece em diversas situações, como quando julgamos o pobre que pede esmola, nos perguntando sobre se o dinheiro que nos pede será para fins legítimos… O que é legítimo em seu mundo de sofrimento? De quê tem ele fome? Será que seu pedido de esmola não é também um clamor de vida? Como nos colocamos diante desses clamores? “Na verdade, este homem era Filho de Deus!” (Mc, 14:39), compreendeu o centurião, diante do Cristo julgado, condenado e crucificado pelo povo.
Somos todos Filhos de Deus e aí está a essencialidade do amor ao próximo, não somente na reflexão e nas pequenas atitudes diárias – que devem existir e são importantíssimas -, mas também na nossa atuação como cristãos no mundo, na forma de nos colocar na sociedade. Se meu irmão é Filho de Deus, então preciso agir para que meu irmão tenha uma vida digna e a tenha em abundância! É no bem coletivo que é plantado, cresce, floresce e frutifica o Amor de Deus. A morte de Jesus Crucificado veio nos mostrar que os leprosos, os samaritanos, e tantos outros excluídos são Filhos do Pai, como nós. O amor aos nossos irmãos deve residir, assim, na prática desse amor. Quem são os leprosos de hoje? Quem é marginalizado em nossa sociedade?
“Se me amais, guardai os meus mandamentos.” (João 14:15), disse-nos Jesus. Façamos o exercício diário de desembaçar nossos olhos, abrir nossos braços, e oferecer nossas vidas para a prática do mandamento de Cristo em nossa comunidade, para de fato sermos o sal da terra e a luz do mundo, assim permanecendo incessantemente no amor de Deus. “Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós” (João, 14:20).
*Imagem: “Os Pobres Trabalhadores da Terra”, de Sebastião Salgado