Catequese do Papa 2 – Eu creio em Deus Pai todo-poderoso
Na catequese passada, nos concentramos sobre as palavras iniciais do Credo: “Eu creio em Deus”. Mas a profissão de fé especifica esta afirmação: Deus é Pai onipotente, Criador do céu e da terra. Gostaria então de refletir agora convosco sobre a primeira e fundamental definição de Deus que o Credo nos apresenta: Ele é Pai.
Não é sempre fácil hoje falar de paternidade. Sobretudo no mundo ocidental, as famílias desagregadas, os compromissos de trabalho sempre mais exigentes, as preocupações e frequentemente a dificuldade de enquadrar as contas familiares, a invasão dos meios de comunicação de massa na vida cotidiana são alguns dos muitos fatores que podem impedir uma relação serena e construtiva entre pais e filhos. A comunicação muitas vezes é difícil, a confiança é menor e a relação com a figura paterna pode se tornar problemática; e problemático se torna também imaginar Deus como um pai, não tendo modelos adequados de referência. Para quem teve a experiência de um pai demasiado autoritário e inflexível, ou indiferente e pouco afetuoso, ou até mesmo ausente, não é fácil pensar com serenidade em Deus como Pai e abandonar-se a Ele com confiança.
Mas a revelação bíblica ajuda a superar estas dificuldades falando-nos de um Deus que nos mostra o que significa verdadeiramente ser “pai”; e é sobretudo o Evangelho que nos revela esta face de Deus como Pai que ama ao ponto de doar o próprio Filho para a salvação da humanidade. A referência à figura paterna ajuda também a compreender algo do amor de Deus que, porém, permanece infinitamente maior, mais fiel, mais total que aquele de qualquer homem. Deus nos é Pai porque nos abençoou e escolheu antes da criação do mundo (cf. Ef 1,3-6), nos tornou realmente seus filhos em Jesus (cf. 1Jo 3,1). E, como Pai, Deus acompanha com amor a nossa existência, doando-nos a sua Palavra, o seu ensinamento, a sua graça, o seu Espírito.
Deus é um Pai que não abandona nunca os seus filhos, um Pai amoroso que sustenta, ajuda, acolhe, perdoa, salva, com uma fidelidade que supera imensamente a dos homens, para abrir-se a uma dimensão da eternidade. O amor de Deus Pai não é menor, não se cansa de nós, é amor que doa até o extremo, até o sacrifício do Filho. A fé nos doa esta certeza, que se transforma uma rocha segura na construção da nossa vida: nós podemos enfrentar todos os momentos de dificuldade e de perigo, a experiência da escuridão da crise e do tempo de dor, suportados pela confiança de que Deus não nos deixa sós e sempre está próximo, para salvar-nos e levar-nos à vida eterna.
A fé em Deus requer crer no Filho, sob a ação do Espírito, reconhecendo na Cruz que salva a revelação definitiva do amor divino. Deus nos é Pai doando o seu Filho para nós; Deus nos é Pai perdoando o nosso pecado e levando-nos à alegria da vida ressuscitada; Deus nos é Pai doando-nos o Espírito que nos torna filhos e nos permite chamá-lo, em verdade, “Abbá, Pai” (cf. Rm 8,15). Por isso Jesus, ensinando-nos a rezar, nos convida a dizer “Pai nosso” (Mt 6,9-13; cf. Lc 11,2-4).
É ali, no Mistério pascal, que se revela em toda a sua luminosidade a face definitiva do Pai. E é ali, na Cruz gloriosa, que acontece a manifestação plena da grandeza de Deus como “Pai onipotente”.
Mas poderíamos nos perguntar: como é possível pensar em um Deus onipotente olhando para a Cruz de Cristo? A este poder do mal que chega ao ponto de matar o Filho de Deus? Nós gostaríamos, certamente, de uma onipotência divina segundo a nossa mentalidade e os nossos desejos: um Deus “onipotente” que resolva os problemas, que intervenha para evitar a dificuldade, que vença o poder adversário, muda o curso dos acontecimentos e anula a dor.
Mas a fé em Deus onipotente nos impele a percorrer caminhos bem diferentes: aprender a entender que o pensamento de Deus é diferente do nosso, que as vias de Deus são diferentes das nossas (cf. Is 55,8) e também a sua onipotência é diferente: não se exprime como força automática ou arbitrária, mas é marcada por uma liberdade amorosa e paterna. Na realidade, Deus criando criaturas livres, dando liberdade, renunciou a uma parte do seu poder deixando o poder da nossa liberdade. Assim Ele ama e respeita a livre resposta de amor ao seu chamado. Como Pai, Deus deseja que nós nos tornemos seus filhos e vivamos como tais no seu Filho, em comunhão, em plena familiaridade com Ele. A sua onipotência não se exprime na violência, não se exprime na destruição do poder adversário como nós gostaríamos, mas se exprime no amor, na misericórdia, no perdão, no aceitar a nossa liberdade e no incansável apelo à conversão do coração, em uma atitude só aparentemente indefesa – Deus parece indefeso, se pensamos em Jesus Cristo que reza, que é morto. Uma atitude aparentemente indefesa, feita de paciência, de mansidão e de amor, demonstra que este é o verdadeiro modo de ser poderoso! Este é o poder de Deus! E este poder vencerá!
Somente quem é verdadeiramente poderoso pode suportar o mal e mostrar compaixão; somente quem é verdadeiramente poderoso pode exercitar plenamente a força do amor. E Deus, a quem pertence todas as coisas porque tudo foi feito por Ele, revela a sua força amando tudo e todos, em uma paciente espera pela conversão de nós homens, que deseja ter como filhos. Deus espera a nossa conversão. O amor onipotente de Deus não conhece limites, tanto que “não poupou o próprio Filho, mas o entregou por todos nós” (Rm 8, 32). A onipotência do amor não é aquela do poder do mundo, mas é aquela da doação total, e Jesus, o Filho de Deus, revela ao mundo a verdadeira onipotência do Pai dando a vida por nós pecadores. Eis o verdadeiro, autêntico e perfeito poder divino: responder ao mal não com o mal, mas com o bem, aos insultos com o perdão, ao ódio com o amor que faz viver. Então o mal é verdadeiramente vencido, porque lavado pelo amor de Deus; então a morte é definitivamente derrotada porque transformada no dom da vida. Deus Pai ressuscita o Filho: a morte, a grande inimiga (cf. 1Cor 15,26), é engolida e privada de seu veneno (cf. 1Cor 15,54-55), e nós, livres do pecado, podemos ter acesso à nossa realidade como filhos de Deus.
Então, quando dizemos “Eu creio em Deus Pai onipotente”, nós expressamos a nossa fé no poder do amor de Deus que no seu Filho morto e ressuscitado derrota o ódio, o mal, o pecado e nos abre à vida eterna, aquela dos filhos que desejam estar para sempre na “Casa do Pai”. Dizer “Eu creio em Deus Pai onipotente”, no seu poder, no seu modo de ser Pai, é sempre um ato de fé, de conversão, de transformação do nosso pensamento, de todo o nosso afeto, de todo o nosso modo de viver.
Papa Bento XVI – 30/01/2013